sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Aquilo que o Tempo Levou



Noite fria esta. Tímidas gotas de chuva caem no telhado. Ascendo um cigarro e penso. Sinto-me só, apenas meus pensamentos me acompanham e me acariciam, como a meiguice de uma criança.
Ouço minha música preferida e sinto um arrepio leve pelo corpo. Perto de mim percebo livros que precisam ser lidos e projetos que devem ser realizados.
E eu continuo aqui nesta inércia, incapaz de tornar qualquer decisão.
Só os pensamentos se agitam em meu cérebro.
Porém, olho-os de maneiras penetrantes, como se quisesse ir além do que vejo.
E Consigo! De repente, percebo que estou diante de um cenário simples.
Nada de muita excentricidade. Apenas o sol, com toda sua beleza, dando reflexos coloridos nas flores amarelas, mais nada.
Basta isso para se amar? Amor! Novamente a presença desta palavra em minha mente me faz pensar e ceder. Cedo-me às passagens vividas não esquecidas, porque o amor é uma coisa lenta e difícil.
Não o amor carnal, onde o sexo é o dono da festa. Este é tumultuado e rápido. E com a mesma rapidez que chega despede-se. Dele restá-nos apenas migalhas de recordações que o vento leva. Mas é o amor mesmo? Eu era criança, cresci. Tornei-me uma mulher filosófica.
Uma filósofa do silêncio.
Também, para que falar, comentar, insistir em algo que já passou.
Amor é para ser guardado com a gente, não com os outros.
Aquilo que é único e terno. Fica na alma e não escapa. Para que se arriscar em algo que já falhou?
Nunca procurei, nunca escrevi. Apenas amei. E a minha fragilidade começa aí.
Paro, penso. Sinto o gorjeio calmo dos pássaros.
Voam sempre à procura de novos caminhos.
Todos vão, e eu fico aqui à espera. Na busca deste sonho alto, sem música e, sem querer, vou dissimulando. Sempre com este amor mal acabado a perturbar-me a alma. Uma perturbação que chega a ser insuportável, a ponto de levar-me à beira da loucura. E felizes são os loucos que perderam a noção do ridículo ou do preconceito!
São livres, se libertam quando querem e nem por isso são menos queridos.
Ah! Somos deveras loucos por sermos normais.
Sinto mão que me tateiam, olhos que me olham, e a desagradável sensação de ser única, claro sem querer. Limito-me a calar sufocando impulsos. E é com esforço que visto à tentação de voltar atrás, viver tudo. Ser feliz...
No entanto, sei que é inútil tentar. Foi bonito, mas passou. Foi esmagado pelo tempo. E eu fico a espera de um resto de esperança em vão.
Ainda me sangra a ferida das dúvidas e mágoas.
Mas é fácil enganar a sociedade, basta sorrir, ela não se preocupa na análise interna. É supérfula como a vaidade e a glória.
E há as que acreditam em um amor atrás do outro.
Devem ser felizes. Maneira cômoda de levar a vida. Eu sou incapaz.
Minha vida me escapa entre os dedos e eu nada faço para renová-la. Não mudo nada. Só me pergunto como mudar. Depois do amor, vem a saudade, a dor, e o pior é, o horror da comparação.
É como uma experiência em laboratório. Fazemos a primeira com a curiosidade paixão.
A segunda jamais será igual.
Já não terá o espanto das queimaduras dos ácidos, a curiosidade de analisar o final da reação, já sabemos tudo.
Assim é o meu único amor. Assim é um amor abandonado pelo tempo.
(06/1983)
By Si Arian

Um comentário:

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”
(Antoine de Saint-Exupery).

"Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las."
(Voltaire)

"Agradecer o bem que recebemos é retribuir um pouco do bem que nos foi feito".
(Augusto Branco)...

Agradeço a visita!!
Seu comentário é muito bem vindo!
Beijos da Si Arian!

 

Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.