segunda-feira, 5 de abril de 2010

Caixa de Pandora


"Conta a mitologia grega que, no início da Criação, o Titã Prometeu foi designado pelos deuses para organizar a matéria em confusão, dando origem à natureza e às demais formas de vida animal.
Depois de organizar a Terra, o ar e as águas, fez o homem. E porque os homens se sentissem muito sós, com a ajuda dos demais deuses, criou a mulher.
Casou-se com a primeira linda mulher que criou, a quem chamou Pandora.
Disse à sua esposa que tudo o que existia em seu reino pertencia a ela também, e que ela poderia usufruir de tudo, mas não poderia tocar numa caixa que ele guardava num dos cantos do quarto.
Dizer a Pandora que não a tocasse, foi o suficiente para lhe despertar a curiosidade. No primeiro momento em que ela se viu só, na enorme mansão, buscou a caixa e a abriu...”

Assim que li esse texto sobre a Caixa de Pandora, logo me veio à mente: e a minha Caixa, como ela se encontra?... Também estava num canto do meu pequeno mundo... Do meu refúgio de solidão e paz... Naquele meu abrigo, no sótão...

Subi a escada bem devagar, degrau por degrau... Estava sem pressa de chegar, pois esse local é visitado por mim poucas vezes... Lá guardei as minhas lembranças, recordações, reflexo do passado.

Abri a porta devagar, olhei atenta a tudo que lá existe e, num dos cantos escondido encontrei o meu velho e amigo baú. Estava empoeirado, já há muito tempo que não remexo nele!

Assim que levantei a tampa do baú, ele se abriu em vários níveis, internamente parece ser maior que o exterior... Em cada nível que ia remexendo, saíam de sua intimidade todas as minhas recordações... Muito variadas por sinal.
Neste baú se encontram as minhas fotos preferidas, pois são imagens de grandes momentos de minha existência, nelas contém fotos da minha infância, fotos de escola, dos amigos que hoje não possuo contato, mas que estão guardadas lá no fundo desse baú... Nelas contém os sorrisos gravados e em algumas percebi certa tristeza em alguns olhares. Estranho!... Só percebi isso hoje, no momento em que foram tiradas as fotos não tinha reparado. Tentei imaginar porque daqueles olhares tristes, não soube explicar! Mas na maioria continha sorrisos... E esses eu soube explicar alegria do momento contida naquele pedaço de papel, amarelado por sinal.

Existem também as fotos dos momentos de noivado, casamento, nascimento dos filhos, dos fins de semanas com os amigos... São tantas fotos, mas todas refletem valor inestimável.

Fui olhando uma a uma, em algumas senti a mesma emoção do momento em que o flash foi disparado, outras não tive a mesma sensação...

Percebi que nessa caixa havia partes de mim, emoções contidas, lembranças jamais esquecidas, objetos que guardei com muito zelo para serem revistos. O meu eu contido ali, naquele pequeno baú.

Encontrei o meu disco de vinil preferido, pois nele constam as minhas músicas favoritas... Sorri... Músicas que trazem a mente momentos de alegrias, tristezas, ilusões, desamores e amores guardados... Jamais esquecidos...

Em outro nível encontrei presentes recebidos de pessoas que passaram pelo ciclo de minha existência... Não pensem vocês que eram presentes de grande valor monetário, não, eram presentes que ao momento que é visto parecem aos olhos alheios insignificantes... Perante aos meus olhos, o valor é inestimável... É uma pétala de uma flor desidratada, essa folha ressecada fez parte de um momento inesquecível... Lá continham um anel sem o brilho do momento recebido de uma pessoa querida... Ri com o que encontrei logo após... Medalhas recebidas por uma pessoa, por merecimento em esportes físicos, medalhas de ouro, prata e até cobre. Essa pessoa me ofertou esses objetos em forma de carinho, mostrando o quanto era ágil, versátil naquelas modalidades... Logo pensei, porque será que me foi dado todas essas medalhas? Deduzi, deve de ser porque hoje a pessoa está impossibilitada de praticar tais atos, e me deu como uma forma de carinho e gratidão daqueles momentos importantes em sua vida... Momentos de muita alegria.

No nível seguinte, encontrei cartas recebidas de um amor eterno... Não precisava abrir, pois sabia o que continha em suas linhas, rabiscadas com a emoção e sentimento do momento... Sentimentos presos ali, naquelas folhas amareladas com o passar do tempo. Alguns envelopes eram bem recheados de páginas e páginas escritas com palavras ditas naquele momento, outros finos, guardavam muitas palavras que ficaram por dizer, mas que estavam nas entrelinhas. Guardei com cuidado e carinho que elas mereciam.

Em outro nível, encontrei duas camisetas amareladas pelo tempo... Em uma das camisetas, a mais antiga estava estampada a foto do meu filho mais velho, na outra estava estampada os pezinhos da minha filha com a seguinte frase: "Nestes meus pequenos passos, te seguirei para toda a vida!" Continha também desenhos deles, rabiscos coloridos da fase de jardim... Pré... Não pude conter as lágrimas, essas teimavam em cair... Mas eram de emoção de um passado não muito distante, aos poucos elas cessaram e eu quando me dei por conta estava a sorrir.

Encontrei também a minha primeira boneca... Estava toda descabelada, mas aos meus olhos continua a mesma doce lembrança de uma infância...

Num nível mais abaixo, todo empoeirado, encontrei algo que estava bem escondido no fundo... Já tinha aberto algumas vezes esse meu baú, mas nunca a tinha visto... Sem me dar conta das outras vezes de que ela estava lá... Hoje me dei conta de que no fundo estava guardada a esperança!

No entanto, ainda resta para mim a esperança... Esperança de algum outro dia, não sei prever quando, poder rever, recordar, reviver, arrebatar tudo isso novamente... Ficar extasiada, após toda essa nostalgia ressurgida de dentro d’alma de uma idade passada contida nesse meu velho baú... Como na velha caixa de pandora...

Fui fechando o meu velho baú bem devagar, fechando nível por nível. E em cada nível que fechava, pareceu-me o baú a me falar, afirmando para quem O quisesse ouvir:

"Eu estou aqui... Nunca estareis a sós."

By Si Arian

3 comentários:

  1. Oi Si, vim rapidinho agradecer a força e a visita lá no felina.obrigada pela amizade. estou sobrevivendo em meio a grandes tempestades...mas com Fé!


    Um grande beijo.

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  2. bom dia, minha querida amiga.
    Bela postagem, gostei da forma como foi escrito. Facilitou mais a compreensão.
    FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... e MEU CADERNO DE POESIAS, deseja um dia de muito Sucesso e realizações plenas.
    Saudações Educacionais !

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  3. QUE LINDO, AMIGA!!!

    Lindo e emocionante o seu relato. Fui junto na tua emoção, também adoro abrir minhas "caixas de Pandora"...aliás, tenho várias!

    Abraço carinhoso... e obrigada pela mensagem carinhosa no meu blog!

    Beijos

    Lia♥

    Blog Reticências...

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“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”
(Antoine de Saint-Exupery).

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(Voltaire)

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(Augusto Branco)...

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